quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Se a vida fosse branco e preto
Não ia ter batom vermelho
Não ia ter teus olhos verdes
Não ia ter...

Ia ser tudo escala de cinza
Como uma escala musical
Que começa com um Mi menor
E acaba por Dó no final

Pior que a vida em branco preto
É ter batom vermelho
É ter tal olho verde
Mas usar óculos escuro

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Receita de bolo em 2 passos:

1º passo: Marque um compromisso.
2º passo: Não vá a esse compromisso.
Para Alegria

A verdade é que só li sua carta ontem. Ela já estava comigo a quase um mês, nesse tempo leram ela pra mim umas duas vezes, mas quando você não tem um rosto, uma lembrança, qualquer apelo visual - como uma caligrafia - faz toda a diferença e talvez eu estivesse evitando isso. A verdade é que eu ficava repetindo pra mim mesmo que não lia por falta de tempo, mas nao tinha lido mesmo por falta de coragem. Lí e não sabia por onde começar, depois nao queria terminar. É verdade também que a carta nao era nem pra mim, não tinha meu nome, me citava de forma até certo ponto genérica, talvez eu só precisasse de uma desculpa pra falar com você ou de você ou pra você... Talvez eu só estivesse tentando preencher esse vazio.

Eu acho engraçado até, como podemos sentir falta de algo que nunca tivemos. Ou como Alegria pode entristecer.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

tudo passa

tudo passa, passam as estações, o trem passa, passa até a fome(enquanto alguns passam fome), passam os carros e aviões, a dor passa, passa o dia, passa um ano, passo calor e frio, até que você passa, e quando você passa, ai sim, tudo passa, passa minha mão na sua, passa o dia comigo?

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

da ponta ao filtro

nosso amor foi um vício
desses de cigarro barato
eu devia te chamar de lucky strike
derby ou malboro

perdi a conta dos (a)maços diários
meus dedos tinham teu cheiro empregandos
todo o resto das coisas
já não tinham mais cheiro ou gosto

mas todo vício faz mal e precisa de um fim
você me encheu o saco e eu usei NiQuitin

amnésia conjunta

eles se esqueceram que foi amor a primeira vista, quem deu o primeiro passo, quando foi o primeiro beijo, como ela parecia com ele e ele não tinha nada a ver com ela, como os olhos deles brilhavam no lusco-fusco, da primeira noite, da primeira briga, como o tempo passava rápido, do cheiro bom que ela tinha e do jeito atencioso dele, da segunda briga, como era bom almoçar na casa da sogra, que valia a pena ver qualquer filme do Adam Sandler pra agradar ela, que ir na final da copa mato-grosso de futebol de várzea até que era bom quando era com ele, da terceira briga, primeira viagem, de que a mãe dele tem se intrometido muito na vida deles, que Adam Sandler é um péssimo ator, que futebol de várzea é um saco, da quarta briga, que os fins de semana juntos estavam cada vez mais longos, que o cheiro dela já estava enjoativo e o jeito dele era muito infantil, da quinta briga, de como no lusco-fusco era tudo tão escuro, que a comida da sogra já era muito apimentada, da sexta briga, que eles eram tão diferentes mas brigavam pelas mesmas coisas, que estavam juntos. se esqueceram que no fim talvez não fosse preciso esquecer nada, só perdoar.

sobre esquecer de esquecer

E ele que tinha esquecido da fórmula de baskara, de todos os ganhadores do bbb, do nome da professora da quarta série, do artigo 15 da constituição e daquele poema que ele falou pra ela na primeira vez que saíram, se esqueceu que já tinha esquecido dela.


(se esquecer que já tinha esquecido, talvez seja lembrar)