segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

prólogo

apaguei a luz,
fechei a janela,
não a janela está aberta, preciso fechar a janela
abre o editor de texto,
escreve até onde está escrito acima,
pensa que se não fechar a janela não vai conseguir terminar o texto,
mas ele já está escrito na cabeça,
mas é superstição, se vc disse que ia fechar a janela é melhor fechar,
fecha a janela,
converte texto para formatação normal,
eu gosto de century gothic, mentira essa fonte é courier new,
me sinto culto na maquina de escrever,
desliga o wifi,
ritual completo,
começa o roteiro

-
já pode escrever o roteiro,
ótimo se a protagonista dessa história não fosse você,
porque esse papel em núcleos diferentes já não me cabe mais.
seria perfeito se as cenas que me vem a cabeça não fossem tuas,
diálogos complexos, dramas profundos.

-
mas vai ter roteiro,
sempre as vezes com tuas cenas,
o jorge sempre vai ser a sua helena*

*manuel carlos

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

meio-dia

todo dia só por um minuto o mundo todo fica sem nenhuma sombra
o sol fica totalmente a pino e nada, absolutamente nada emite nenhuma sombra
a gente tenta viver um minuto por dia,
apressando cada hora
tentando prolongar o meio-dia

nos dias de sol a sombra é dura, forte, definida,
quase dá pra ver o rosto, mas não dá,
porque é sombra
nos dias nublados fica suave, mansa, por pouco não se vê,
quase é bonita, mas não é,
porque é sombra

terça-feira, 15 de julho de 2014

E agora?

E agora, Jorge?
A copa acabou,
a luz apagou,
os gringo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, Jorge?
e agora, você?
você sem nome,
que zomba de todos,
você que faz versos,
diz que ama, protesta
e agora, Jorge?

Trecho humildemente adaptado do original por Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 6 de junho de 2014

logo me pego lendo a carta já lida, ledo engano.

esxtrañhol

Tá estranho
como quando a voz não sai

Tá estranho
como quando você balança o controle da tv e parece que tem uma peça solta

Tá estranho
como quando o silêncio não parece tão quieto

Tá estranho
como quando a solidão não parece nem solidão

Tá estranho
eu me estranho

eu te extraño

quinta-feira, 24 de abril de 2014

domingo, 13 de abril de 2014

domingo, 30 de março de 2014

ela chegou, sem bater, abriu a porta e entrou… eu juro que não a vi entrar ou fingi não ver, passou o dia todo no canto só observando e na primeira oportunidade se jogou em mim e sinceramente… não reagi.

não sabia o que fazer e me dei conta, ela nunca tinha ido embora, ela sempre esteve ali naquela camisa no armário, no livro na estante que brilha no escuro, na poltrona 05, na baldeação diária, naquela rua, em cada pedalada… em cada pensamento.


quem diz que o tempo cura tudo nunca sentiu saudade.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Ensaio sobre o fim

A certeza que esta de volta é a certeza do fim.

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A esperança se foi com os dias longos de verão e o que viram foi que não basta o beijo, abraço e o toque das mãos.

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Não existe nada imune ao fim ou que o prolongue.

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É muito, muito fim e pouco começo em meio a pouquíssimos meios.

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O mesmo dicionário que aponta 8 significados para meio não tem nenhum meio de mudar um fim.

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Curioso é que segundo o dicionário "fim" significa também objetivo, mas qual o objetivo do fim?

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

plantão urgente

desde que o mundo é mundo notícias precisam ser dadas as pessoas. algumas são boas como… “você vai ser pai”, outras são ruins como… “você vai ser pai”. o que faz uma notícia ser boa ou ruim é apenas quem conta e quem recebe a noticia, noticia essa que pode mudar drasticamente o atual modo de vida das pessoas, por isso é tão importante.

ninguém nunca sabe como contar ao namorado que a menstruação está atrasada, aos pais que não passou na faculdade, que foi demitido, que está doente, que estourou o limite do cartão de crédito ou que está apaixonado, que está apaixonado...

domingo, 16 de fevereiro de 2014

ela era como o sol e ele a terra

acontece que sem sol não há vida na terra
mas sem terra o sol ilumina o que?

sábado, 8 de fevereiro de 2014

cuidado

a boca que beija também morde
os braços que abraçam também tem cotovelos
a mãos que acariciam também socam
as pernas que você admira também chutam

os caminhos que juntam também separam…

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Se a vida fosse branco e preto
Não ia ter batom vermelho
Não ia ter teus olhos verdes
Não ia ter...

Ia ser tudo escala de cinza
Como uma escala musical
Que começa com um Mi menor
E acaba por Dó no final

Pior que a vida em branco preto
É ter batom vermelho
É ter tal olho verde
Mas usar óculos escuro

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Receita de bolo em 2 passos:

1º passo: Marque um compromisso.
2º passo: Não vá a esse compromisso.
Para Alegria

A verdade é que só li sua carta ontem. Ela já estava comigo a quase um mês, nesse tempo leram ela pra mim umas duas vezes, mas quando você não tem um rosto, uma lembrança, qualquer apelo visual - como uma caligrafia - faz toda a diferença e talvez eu estivesse evitando isso. A verdade é que eu ficava repetindo pra mim mesmo que não lia por falta de tempo, mas nao tinha lido mesmo por falta de coragem. Lí e não sabia por onde começar, depois nao queria terminar. É verdade também que a carta nao era nem pra mim, não tinha meu nome, me citava de forma até certo ponto genérica, talvez eu só precisasse de uma desculpa pra falar com você ou de você ou pra você... Talvez eu só estivesse tentando preencher esse vazio.

Eu acho engraçado até, como podemos sentir falta de algo que nunca tivemos. Ou como Alegria pode entristecer.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

tudo passa

tudo passa, passam as estações, o trem passa, passa até a fome(enquanto alguns passam fome), passam os carros e aviões, a dor passa, passa o dia, passa um ano, passo calor e frio, até que você passa, e quando você passa, ai sim, tudo passa, passa minha mão na sua, passa o dia comigo?

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

da ponta ao filtro

nosso amor foi um vício
desses de cigarro barato
eu devia te chamar de lucky strike
derby ou malboro

perdi a conta dos (a)maços diários
meus dedos tinham teu cheiro empregandos
todo o resto das coisas
já não tinham mais cheiro ou gosto

mas todo vício faz mal e precisa de um fim
você me encheu o saco e eu usei NiQuitin

amnésia conjunta

eles se esqueceram que foi amor a primeira vista, quem deu o primeiro passo, quando foi o primeiro beijo, como ela parecia com ele e ele não tinha nada a ver com ela, como os olhos deles brilhavam no lusco-fusco, da primeira noite, da primeira briga, como o tempo passava rápido, do cheiro bom que ela tinha e do jeito atencioso dele, da segunda briga, como era bom almoçar na casa da sogra, que valia a pena ver qualquer filme do Adam Sandler pra agradar ela, que ir na final da copa mato-grosso de futebol de várzea até que era bom quando era com ele, da terceira briga, primeira viagem, de que a mãe dele tem se intrometido muito na vida deles, que Adam Sandler é um péssimo ator, que futebol de várzea é um saco, da quarta briga, que os fins de semana juntos estavam cada vez mais longos, que o cheiro dela já estava enjoativo e o jeito dele era muito infantil, da quinta briga, de como no lusco-fusco era tudo tão escuro, que a comida da sogra já era muito apimentada, da sexta briga, que eles eram tão diferentes mas brigavam pelas mesmas coisas, que estavam juntos. se esqueceram que no fim talvez não fosse preciso esquecer nada, só perdoar.

sobre esquecer de esquecer

E ele que tinha esquecido da fórmula de baskara, de todos os ganhadores do bbb, do nome da professora da quarta série, do artigo 15 da constituição e daquele poema que ele falou pra ela na primeira vez que saíram, se esqueceu que já tinha esquecido dela.


(se esquecer que já tinha esquecido, talvez seja lembrar)